Perdão na Bíblia Sagrada: o que Jesus nos orienta?

Shirlei Braga
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03/03/2022 às 15h55 - quinta-feira

O perdão na Bíblia Sagrada é muito importante de ser estudado em seus diversos aspectos, uma vez que deve se manifestar nas ações diárias de cada um.  

Seja nos relacionamentos pessoais, na forma como lidamos com as nossas próprias falhas ou no nosso relacionamento com Deus. 

Ele, o perdão, é uma das grandes lições de Jesus para que o ser humano alcance a Paz Interior tão necessária na superação das adversidades da vida. 

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Saber perdoar é uma conquista pessoal e exige de nós a vivência das Leis Divinas. O Cristo guia os passos de Seus discípulos nesse caminho, apresentando o perdão na Bíblia Sagrada como um ensinamento de bem viver e comportamento adequado aos que desejam segui-Lo.  

Por isso, reflita e aprofunde-se no tema com as seguintes passagens do Santo Evangelho de Jesus: 

“Quantas vezes se deve perdoar a um irmão” 

Comecemos com a Boa Nova do Divino Mestre, segundo Mateus, 18:21 e 22, a passagem “Quantas vezes se deve perdoar a um irmão”: 

21 - Então, Pedro, aproximando-se do Cristo, Lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?

22 - Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”

O Cristo não está nos ensinando a sermos covardes diante dos maus ou a aceitar o que está errado, Ele mesmo nos advertiu que: “Seja o vosso falar - sim, quando é sim; não, quando é não; o que disto passar, provém do maligno” (Evangelho, segundo Mateus, 5:37).  

Na verdade, Ele está nos incentivando a aprender com os erros e a nos libertar do ódio e do rancor para que não carreguemos pesos desnecessários em nossa jornada, que já traz em si os seus fardos.  

Sobre a importância do perdão, escreve José de Paiva Netto, Presidente-Pregador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo:  

“A sociedade entraria em colapso sem esse divino postulado. E ele está na base das tradições de fé em todo o mundo, porquanto é ensinamento cuja origem vem do mais alto. Não foi sem propósito que Jesus, o Supremo Ligador do Céu à Terra, tanto difundiu esse princípio de transcendente teor espiritual”

Trecho extraído do livro Os Mortos não Morrem, subtítulo “A crença nos espíritos como vantagem adaptativa”.  

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“Como tratar a um irmão culpado”  

Um pouco antes de orientar a Pedro sobre perdoar setenta vezes sete, Jesus igualmente nos instruiu acerca de “Como tratar a um irmão culpado”, passagem constante em Evangelho, segundo Mateus, 18:15 a 20, da qual transcrevemos aqui os versículos de 15 a 17:  

15 - Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, ganhaste a teu irmão.

16 - Se porém, não te ouvir, leva ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda a palavra seja confirmada.

17 - E, se ele não os atender, dize-o à Assembleia; e, se recusar a ouvir também a Assembleia, considera-o como gentio e publicano.

Claramente, o Mestre nos ensina que se deve escolher sempre o diálogo fraterno, nunca o rancor. Vemos nesses versículos uma sequência de ações que nos ajudam a resolver os conflitos. 

Afinal, quem não tem seus erros neste mundo? O objetivo de Jesus é que o ser humano, mesmo falho, aprenda a amar como Ele nos amou e ama, conforme a Sua Ordem Suprema: “Novo Mandamento vos dou: Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35). 

“Quantas vezes se deve perdoar a um irmão” 

Nesta passagem de mesmo título, porém registrada pelo Evangelista Lucas, 17:3 a 6, vemos outros profundos ensinamentos de Jesus: 

3 - Acautelai-vos! Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.

 4 - Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: “Estou arrependido”, perdoa-lhe.

5 Disseram-Lhe então os Discípulos e Apóstolos: Jesus, aumenta a nossa Fé!

6 Ao que lhes respondeu o Senhor: Se tiverdes Fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Sai daqui, lança-te ao mar, e assim acontecerá, porque nada vos será impossível.

Jesus diz: “Acautelai-vos”, a fim de que haja o perdão a quem erra e se arrepende. Cautela para que, movidos pelo ódio, vingança, orgulho... Não caiamos nas armadilhas da injustiça.  

Não há justificativas para a prática dela, na qual seremos severamente cobrados dentro da Lei de Causa e Efeito. Além do que, agir dessa forma, ao invés de corrigir o opressor, pode acabar gerando mais rancor e agravando a situação.  

É preciso praticar a Justiça com o Amor de Deus. No artigo Expressão verídica de Justiça e de Amor, o Irmão Paiva Netto nos esclarece no subtítulo : “Fraternidade, Disciplina e Justiça”:  

“Escrevi, em Sociologia do Universo, que devemos ser piedosos; contudo, comprovado o delito, cumpra-se a lei (lei justa, é claro), visto ser a impunidade sepulcro para as nações. (...) O Amor nunca pode ser encarado como algo frágil. Do contrário, Gandhi (1869-1948) não concluiria que: ‘Se um único homem atingir a plenitude do Amor, neutralizará o ódio de milhões’. Tenhamos, pois, sempre em mente que a Fraternidade é a Lei. A Ética, a sua disciplina. A Justiça, a aplicação. Ninguém mais infeliz do que o indigente da Fé e da Caridade”. 

Mais à frente, continua o autor: “Aqui um esclarecimento se faz imprescindível: não nos esqueçamos daquela lição iniciática que o Irmão Zarur pôs como Sétimo Mandamento dos Homens e Mulheres da Boa Vontade de Deus: ‘Perdoar é transferir o julgamento à Lei de Deus. Mas o Pai não proíbe que Seus filhos se defendam dos maus’.  

O amadurecimento nos irá revelando essa Augusta Face do Pai Celeste, a qualidade pedagógica de Seu Amor e de Sua Justiça aliados”. 

Todos nós devemos arcar com as consequências de nossas atitudes, sejam boas ou más. O perdão, sem a devida correção, pode levar aquele que errou ao vício desse engano por um longo tempo.  

E Deus perdoa a todos, dando a oportunidade de nos corrigir nesta ou em outra vida, pela Lei Universal da Reencarnação.

O perdão como forma de exercer a Fé 

No versículo 5, da passagem citada acima, os Apóstolos pediram ao Mestre: “Aumenta-nos a Fé”. Perdoar é uma escolha de coragem e de Fé Realizante A Fé que age no Bem.  

Ao que Jesus lhes respondeu: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá". 

Sim, a Fé aliada a vivência do Amor Divino nos possibilita vencer dificuldades aparentemente intransponíveis, como: perdoar alguém ou a nós mesmos, pedir perdão, se renovar e voltar a ser feliz mesmo depois de um grande erro.  

Outro importante benefício do perdão é que ele promove o nosso crescimento espiritual, pois nos liberta de muitas algemas que impendem a nossa iniciação nos assuntos Divinos.  

Vivian R. Ferreira

+ Evolução Espiritual: como desenvolver e aplicar no dia a dia?

Algemas que doem, frustram, aniquilam a Alma e a de nossos entes queridos, que também acabam sendo afetados por nossas atitudes.  

Querer aprender com Jesus é estar disposto à renovação de valores e ações. Isso é fundamental para seguir em frente, rumo a Paz Interior fundamentada em Suas lições eternas. 

“A oração dominical” 

O perdão na Bíblia Sagrada também atende a nossa necessidade de se relacionar com Deus, com o Cristo e com o Paráclito (Espírito Santo, Espíritos de Luz, Almas Benditas). 

A exemplo da Prece do Pai-Nosso, de Jesus (Evangelho, segundo Mateus, 6:12): “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoarmos aos nossos devedores".

Eis a condição para receber o perdão Divino: perdoar! 

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“O poder da fé” 

Essa condição é reforçada por Jesus, em Sua Boa Nova, segundo Marcos, 11:25 e 26, na passagem “O Poder da Fé”:  

25 - "Quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai Celestial também vos perdoe as vossas ofensas"

26 - [Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas.]

Quando se ora, se está buscando a Deus. Como é possível encontra-Lo se guardamos mágoas no coração? 

A Lei de Atração rege tudo no universo. O Bem atrai o Bem, assim como o mal atrai o mal. Esclarece o Irmão Paiva Netto: “A face de Deus é o Amor. Quanto mais amamos, mais Ele se manifesta em nós!”.   

E essa atração se dá pelos nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações.  

É Lei universal, infalível e independe de nossa crença ou descrença. Assim como a Lei da Gravidade, que é para todos e não deixa de existir por alguns não a conhecerem.  

Ora, se um rico jogar um objeto para cima, ele vai cair da mesma forma que se um pobre o fizer. Não há distinção de pessoas quando se trata das Leis Divinas que regem o ser humano e a natureza.  

Então, para receber o perdão, é preciso perdoar, seja quem for. 

“Do amor ao próximo e o juízo temerário” 

Ainda sobre o perdão na Bíblia Sagrada, o Evangelista Lucas, 6:36 a 38, registrou estes ensinamentos de Jesus, na passagem “Do amor ao próximo e o juízo temerário”:  

36 - Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. 

37 - Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 

38 - dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. 

 
Esse é um ensinamento direto e urgente, e se encontra também na Prece de São Francisco de Assis: “(...) Porque é dando que recebemos; perdoando é que somos perdoados; e morrendo é que nascemos para a Vida Eterna”.  

+ Como perdoar? Confira perguntas e respostas sobre o tema!

Conclusão 

O perdão na Bíblia Sagrada é Luz para a vida de todos e de todas as famílias, abre nossos olhos para caminhos mais seguros e acertados e nos fortalece para a mudança e a melhora íntima tão necessária!  

Tudo é uma questão de escolha e o conhecimento mais amplo sobre o assunto, torna a aplicação do perdão mais fácil, menos pesada e não tão difícil.  

Ele é uma atitude importante, necessária, libertadora e educativa, indispensável à sobrevivência do Planeta!  

Importante — pois sem sua correta aplicação, a Justiça não existiria como instrumento de Paz e equilíbrio.  

Necessária — para a boa convivência familiar, social e mundial. Funciona como um freio aos instintos que levam a maldade, a violência e tantos outros comportamentos prejudiciais.  

Faz com que a pessoa, encarnada ou desencarnada, busque soluções misericordiosas e inteligentes para os desafios.  

Libertadora — porque como afirma o Irmão Paiva Netto: “Perdão é carta de alforria. Perdoar liberta a quem perdoa”.  

Como é bom ter o coração em Paz, a alma leve, os pensamentos, emoções e sentimentos felizes e de vitória! Perceber a vida fluindo em tudo o que se faz! Contudo, quando se guarda mágoas, rancor e não se perdoa a quem nos ofende, tudo trava, fica turvo e a vida não prossegue.  

Educativa — pois o Pedagogo Celeste usa um método eficaz para ensinar a todos a lição do perdão ao incentivar a sua prática. Essa é uma lição difícil ao ser humano que ainda age muito pelo imediatismo, com impaciência, intolerância, entre outros.  

Daí Jesus nos instruir a praticar “setenta vezes sete”, ou seja, muitas e incontáveis vezes. Deve-se fazer parte da cultura de vida aqui, na Terra, com a ajuda do Céu!  

Jesus se preocupou em deixar tudo muito claro, devido ao grande valor que exerce o perdão no nosso crescimento espiritual! Portanto, cabe a cada um fazer a sua parte e estudar, assimilar e aplicar.  

Estude mais sobre o perdão! Clique aqui e veja a resposta a essas e outras dúvidas:  

“Quando eu perdoo, a pessoa sai impune do erro que cometeu comigo?” 
— “Se eu só pedir perdão em pensamento e depois fazer uma prece, já resolve?” 
— 
“Meu pai desencarnou, mas ainda não consigo perdoa-lo. Isso pode prejudicar o espírito dele e o meu?”